15 de agosto de 2015

Opinião dos Leitores - Vivian de Moraes

Colcha lírica: palavras de bolso

Imagine um livro em que tudo é breve, mas em que cada palavra tem seu peso. Assim é “Colcha de retalhos”, de Rodrigo Domit. O livro embrenha-se na vastidão do universo lírico, multiplicando as possibilidades poético-prosador.

“Colcha de retalhos” tem pensamento, reflexões, mas o mais interessante é ir além disso: fazendo arte pura, sem contaminações, o livro traz belos minicontos, minipoemas e afins, sempre ao calor do dia e à pressa da hora – pelo menos é esta a impressão de quem lê, de que Domit seria um escritor compulsivo.

Aliás, a compulsão está presente em um miniconto, que narra o que alguém é capaz de fazer para deixar de ser “anônimo”. O humor é fino e o conto, inquietante.

Certamente um dos textos mais bonitos no livro é “Fazendo as pazes”:

“Às vezes tenho lá meus desentendimentos com o mundo. Ficamos brigados, ambos emburrados e em silêncio. Ontem mesmo tivemos uma briga feia. O mundo pode ser bem cruel de vez em quando.
Mas ao final da tarde, uma borboleta pousou ao meu lado na rede. Chegou, observou-me e ali ficou, batendo asas como se dançasse. Aceitei as desculpas imediatamente, sem pensar duas vezes.”

E é assim, a partir de cada retalho literário que Domit desenvolveu seu livro, para formar uma grande “Colcha de retalhos”.